terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Corto (2017)

Corto devagar os papeis sobre a mesa
Fazer confetes de papeis sucateados
Corto devagar papeis com a tesoura insensível
Insensível ela está aos papeis e a mesa

Recortadas ficam ... ali: as sobras, largadas
Picados os papeis, os registros, as memórias
Tesoura ali. Insensível. Plissada.
Querendo desfazer-se do papel e da mancha fabricada

Corto devagar os papeis. Silenciosamente.
Recorto-me em papeis. De papeis insidiosos.
Fico-me nas sobras do nada recortado.
Acabam as memórias, preenchidas de manchas.

Mancho-me de confetes de papeis sucateados.
Insensivel, como uma tesoura silenciosa.
Devagar, como papeis vão sendo picados.
Mancho-me ao encerrar as memórias do nada.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Convida-me? (2016)

Convida-me para uma noite de vinhos e conversa
Para uma noite de andanças despretensiosas

Convida-me para uma adega de bons pensamentos
Para uma noite de inteligência e risos

Convida-me para olhares furtivos, com descobertas inocentes
Em uma noite sem grandes rompantes

Vinho, risos, descobertas
Convida-me. Assim de simples: o direito de nos (re)conhecer.

Convida-me para nos sentirmos vivos.
Como vivo é deixar-se querer.

Morto (2016)

E o olhar se modifica em mim.
A face do que não sei confronta a impaciência
E desfaz a memória da angústia.
Revela-se a alegria.
Revela-se uma fantasia.

Póstumas andanças de alguém que não existe
Salvo quando encontra o calor de uma lembrança
Distinguir caminhar e pensamento
Contemplar paisagem e lamento
É extinguir a paz que insistiu em estar

Mandem vir os algozes da solidão
Mandem laurear a vitória de Sísifo
Mandem subir a glória de Prometeus
Porque não há nada mais a fazer
Com esse olhar que se modificou.

Morto.