segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Querem me convencer !? Não sou Nada? (2011)

Querem me convencer de que não sou nada
De que tenho que "ficar bem"
De calar a boca e não contestar demasiado.

Me convencem todos os dias
de que não sou mais uma tola estudante
queimando bonecos ou construindo Judas em abril
para sinalizar que ainda existe indignação
por algo, alguém ou alguma coisa

Demonstram-me todos os dias
que tenho que "portar-me bem".
Devo escrever todos os dias sobre coisas sérias
...e me abandonar

Ser mais polida. Mais contida. Mais atenta. Mais capaz.

Convencem-me todos os dias
sobre o que vestir, pois meu corpo
já não representa uma boniteza estética
dos saudáveis modos de vida até os trinta anos (ou menos!)

Sobre como me educar. Sobre ser sempre prudente e oportuna.

Convencem-me, todos os dias! (todos eles!)
que a sabedoria está em sentar em uma mesa e...
e promover um diálogo de loucos:
baseado exclusivamente no fato de que todos os que estão à mesa
não estão verdadeiramente falando sobre o que gostariam.
Tergiversam, indefinidamente, suas intenções, posturas, olhares e palavras.

Querem me convencer de que não sou nada.

Nada do que faço, fiz ou fui existiu.
Do passado, nem as memórias. Pois:
"As memórias, remoídas transformam-se em rancor", alertam-me
os maduros e mais competentes e equilibrados humanos que conheço.
Então, cada ato passado, que fique ali. Que fique lá!!!

Mas o que fazer quando a esperança é permanente?
Parece tão agora, tão Ágora?
Que bom fazer a coisa certa. Ah! que bom!
Que é bom sorrir e tornar absolutamente tudo divertido??

Como não sou nada, se a cada dia
se reescreve e se reinventa a nossa habilidade de indignação...
se apesar da idade, gordura, cabelos brancos, enxaqueca
podemos apostar no olhar, na irreverência, na alegria,
em outras formas de estar pulsante?
De rir da farsa? De desfazer-se dela... com o jeito de cada qual
cada vez mais criativamente cada-qual

Como não sou nada? Se há o presente em sentimento?
e nem consigo dizer quanto valem? e mais:
nem me importa saber quanto valem!

Puxa! Por que não sou nada?
Quem não é nada diante de tanta vida?
Talvez os que não tenham a vida para valer-se dela.

Uma bosta que eu não sou nada, babaca!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Estações homini (1996)


As vezes fico pensando nos homens... talvez desejando-os.
Como seriam se fossem comparáveis as estações do ano ?
Tanto que os saboreio ou divertem-me  ! Seria bom vê-los assim:

Alguns são como o Verão. Chegam calientes, sudorosos.
Eu, de minha parte sinto-os quentes, mas as vezes de tão aquecidos, queimam e embrutecem.
Amor com eles tem pouca distinção entre uma caminhada infernal de meio-dia
Ou um exercício intenso em uma academia de ginástica.
 Servem muito para amar, mas pouco para descansar.

Outros, comparáveis ao outono, tem uma alma desfolhada... uma promessa de frutos.
Eu, de minha parte, sinto-os delicados, transitórios. Incumplidos, indecisos.
Amor com eles sugere infidelidade. Precisam de tempo e de fé para serem cativados.
Procuram a lembrança de que ainda são caçadores.

Aqueles que se prestam a primavera pretendem alegria, extravagâncias, aventuras.
Colorir o mundo ou a vida é “experimentar” o dom de iludir-se.
Entendem a delicadeza do Buffet, do Menu, do Petit Gauteau e da decoração do ambiente.
De tão delicados, amor com eles sugere uma experiência lésbica... ou o cúmulo da educação em pedir para ver a langerie em lugar de retira-las de você, enquanto escorre a champanhe no seu corpo.

Alguns homens porém insistem em ser inverno. Precisam respirar firme, esfregar as mãos, manter o silêncio... concentram-se para não falhar.
Fecham os olhos nas preliminares. Mordem os lábios para manter o ritmo. Espremem o próprio corpo quando se sentem intensos. Temem agradecer. Desconhecem o outro corpo.
Auto-centrados, perdem-se nos próprios pensamentos. Ama-los é decidir entre o Titanic ou o Iceberg.

Homens. Estações do ano.
De tanto vê-los ou amá-los eu de minha parte prefiro-os quando amazônicos:  quentes e úmidos !

(Monterrey, NL, Mx, 1996)

Ao Homem Que Jamais Terei... (2011)


(Notas de um "Diário de In-Sônias"*)

Boa noite meu querido.
Que bom que você veio.
Tão bons e tão intensos esses pouco mais de dezoito mil, duzentos e cinqüenta dias e duas horas...
Vividos em cinco minutos...

Boa noite meu querido.
Que grata me sinto pelas vezes que me dispo
E as rugas não te parecem, não são vistas
Tão bom que a pílula, o suor, a dor na coluna não retiram o gosto

O gosto que gosto no beijo cotidiano
No riso, no arroto, no pensamento, no sentimento, na vida
Nossa vida ! à dois.
As leis incumpridas de kamasutra. A minha conversão em Sherazade e a minha insistência em te transformar em pão-de-mel, mascote e teste para minha aprendizagem de massagem chinesa.

Obrigada meu amor.
Por preparares o jantar, desculpares meus atrasos, te apacientares com os pratos na pia
Adorei as flores... aquelas que todas semanas me fazes surpresa
E eu contigo trazendo os proibitivos chocolates do teu diabetes...

Obrigada meu amor. Os abraços no meio da noite. As reclamações do ar condicionado.
O macarrão de três minutos e a minha promessa jamais cumprida de um dia aprender a fazer rabanada, macarronada ou lasanha.

Tuas mãos dispostas. Teu olhar desejoso. Tua face juvenil, atrás do glaucoma.
O tempo no hospital. Me carregas com o pé inchado e rias das minhas queixas por causa da cor do esmalte.
Sinto muito meu querido, que os cabelos caem de brancos ou de fracos.

Boa noite meu amor. Perdi meus óculos e não posso fazer minha leitura dos Contos de Bocage hoje.

... te amo meu amor e obrigada por lembrar que a torneira da pia da cozinha tem que ser consertada.


*Texto inspirado nos exercicios de teatro quando preparatórios à apresentação de Diários de In-Sônia pelo Grupo de Teatro Peripécias, da UNIR, no primeiro semestre de 2011. Ao escrever pensava na personagem de Valsa Nr 06 (Nelson Rodrigues) que serviu de base para o trabalho do grupo.
(Porto Velho, RO)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Decreto ! (2009)

Não serei eu a me ocupar dos mortos
Daqueles cuja a alma é torta
Emburrecem e emudecem a vitória

Não serei eu a me ocupar dos tolos
Daqueles que guardam inconfessaveis agouros
Invejam e torturam quaisquer conquistas e todos os louros

Não serei eu a me ocupar dos insidiosos
Daqueles que guardam indecências ébrias
Maculam e oprimem esperanças sérias

Não serei eu a gritar de rompante,
Como se capitulasse na guerra ou fosse dela amante !

Não serei eu a me ocupar das vidas alheias
Daqueles aracnideos, venenosos, tecendo teias
Enlouquecidos diante da felicidade que ao outro permeia

Não serei eu a ocupar-me.
Mas certamente estarei eu, com outros milhares, a combatê-los
(Porto Velho, 28 de dezembro de 2009)