terça-feira, 31 de maio de 2011

Ao Homem Que Jamais Terei... (2011)


(Notas de um "Diário de In-Sônias"*)

Boa noite meu querido.
Que bom que você veio.
Tão bons e tão intensos esses pouco mais de dezoito mil, duzentos e cinqüenta dias e duas horas...
Vividos em cinco minutos...

Boa noite meu querido.
Que grata me sinto pelas vezes que me dispo
E as rugas não te parecem, não são vistas
Tão bom que a pílula, o suor, a dor na coluna não retiram o gosto

O gosto que gosto no beijo cotidiano
No riso, no arroto, no pensamento, no sentimento, na vida
Nossa vida ! à dois.
As leis incumpridas de kamasutra. A minha conversão em Sherazade e a minha insistência em te transformar em pão-de-mel, mascote e teste para minha aprendizagem de massagem chinesa.

Obrigada meu amor.
Por preparares o jantar, desculpares meus atrasos, te apacientares com os pratos na pia
Adorei as flores... aquelas que todas semanas me fazes surpresa
E eu contigo trazendo os proibitivos chocolates do teu diabetes...

Obrigada meu amor. Os abraços no meio da noite. As reclamações do ar condicionado.
O macarrão de três minutos e a minha promessa jamais cumprida de um dia aprender a fazer rabanada, macarronada ou lasanha.

Tuas mãos dispostas. Teu olhar desejoso. Tua face juvenil, atrás do glaucoma.
O tempo no hospital. Me carregas com o pé inchado e rias das minhas queixas por causa da cor do esmalte.
Sinto muito meu querido, que os cabelos caem de brancos ou de fracos.

Boa noite meu amor. Perdi meus óculos e não posso fazer minha leitura dos Contos de Bocage hoje.

... te amo meu amor e obrigada por lembrar que a torneira da pia da cozinha tem que ser consertada.


*Texto inspirado nos exercicios de teatro quando preparatórios à apresentação de Diários de In-Sônia pelo Grupo de Teatro Peripécias, da UNIR, no primeiro semestre de 2011. Ao escrever pensava na personagem de Valsa Nr 06 (Nelson Rodrigues) que serviu de base para o trabalho do grupo.
(Porto Velho, RO)

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