sábado, 22 de abril de 2017

Beijos (2017)

Que beijo intenso.
Sugado de mim.
Em vai e vem de lábios puros
Ávidos por serem assim

Que beijo impróprio
Em escala de tempo e espaço inatingíveis
De partes permitidas de nós
De lados escondidos de mim

Que beijo, Meu Deus !!
Quantos beijos !! Quais beijos !!
Acompanhados de abraços,
Vinho e ambição

Cada beijo perseguido, atormentado
Entre o talvez e o não.
Cada beijo lembrado, assim devagarinho
Pleno de paixão

Beijos infinitos, tesados de sofreguidão
Cada beijo apapalpado, querendo permissão
Meu Deus!! Cada beijo !!
Secular. Milhões de beijos em um único beijo...
... de aceitação.

Mastiga (2017)

Mastiga o nada.
Que ele se desfaz em saliva.

Mastiga o tudo.
Antes que ele te cuspa.

Entre o tudo e o nada
Sozinhos ou juntos?

Sei lá. Mastigue-os.
Antes que te engulam

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Corto (2017)

Corto devagar os papeis sobre a mesa
Fazer confetes de papeis sucateados
Corto devagar papeis com a tesoura insensível
Insensível ela está aos papeis e a mesa

Recortadas ficam ... ali: as sobras, largadas
Picados os papeis, os registros, as memórias
Tesoura ali. Insensível. Plissada.
Querendo desfazer-se do papel e da mancha fabricada

Corto devagar os papeis. Silenciosamente.
Recorto-me em papeis. De papeis insidiosos.
Fico-me nas sobras do nada recortado.
Acabam as memórias, preenchidas de manchas.

Mancho-me de confetes de papeis sucateados.
Insensivel, como uma tesoura silenciosa.
Devagar, como papeis vão sendo picados.
Mancho-me ao encerrar as memórias do nada.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Convida-me? (2016)

Convida-me para uma noite de vinhos e conversa
Para uma noite de andanças despretensiosas

Convida-me para uma adega de bons pensamentos
Para uma noite de inteligência e risos

Convida-me para olhares furtivos, com descobertas inocentes
Em uma noite sem grandes rompantes

Vinho, risos, descobertas
Convida-me. Assim de simples: o direito de nos (re)conhecer.

Convida-me para nos sentirmos vivos.
Como vivo é deixar-se querer.

Morto (2016)

E o olhar se modifica em mim.
A face do que não sei confronta a impaciência
E desfaz a memória da angústia.
Revela-se a alegria.
Revela-se uma fantasia.

Póstumas andanças de alguém que não existe
Salvo quando encontra o calor de uma lembrança
Distinguir caminhar e pensamento
Contemplar paisagem e lamento
É extinguir a paz que insistiu em estar

Mandem vir os algozes da solidão
Mandem laurear a vitória de Sísifo
Mandem subir a glória de Prometeus
Porque não há nada mais a fazer
Com esse olhar que se modificou.

Morto.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O CIENTISTA NU ESPELHO (2013 - AUREO JOÃO)


Blog de: Áureo João. Teresina, 14 de outubro de 2013


O Cientista é um ente
autocriado,
autocausado,
autodeclarado,
autodivinizado,
autoproclamado...
O Cientista,
se pensa...
se fecunda,
se pare,
se valida...
faz-se um ente de único gênero e espécie...
Fálico.
Por sua própria ciência e com esta só
e sua linguagem restrita, adoece e morre,
só...
O Cientista pensa...
que o mundo todo
e todo mundo
só existe
por causa de sua ciência apenas e
de sua prescrição doutoral.
O Cientista é escultor de si mesmo;
esculpe sua formosura e formatura;
talha sua matéria-prima, como criador e criatura.
Resultam belas esculturas e finas culturas.
Às vezes, não raro,
abestalhadas criaturas.
O Cientista é um devoto fervoroso.
Na sua trindade sagrada,
dogmática dura,
sua religião-ciência tem fé absurda.
Tradição, Método e Linguagem;
e uma comunidade fanática... Referenciada...
Crentes fanáticos em suas crenças,
os cientistas, aos muitos,
à semelhança de religiosos fundamentalistas,
nos tentam fazer crer como eles mesmos, em ismos e centrismos,
e nos aprisionar em suas correntes...
discípulos dos discípulos dos discípulos
e dos mestres que dominam suas cabeças...
nos perseguem pelas desobediências atrevidas, heresias e descrenças
No panteão da ciência-religião,
autores que se pensam deuses, outros divinizados;
livros sacralizados, teorias canonizadas;
academias-senzalas, adestramentos e açoites;
hierarquias, departamentalizações, citações;
rituais e normas, reificações,
valem mais que as vidas cotidianas manifestas...
apenas para os Cientistas mesmos; só.
Os cientistas inventaram
a Ciência e a Técnica,
o cronômetro mecânico,
os seus domínios sobre a Terra e os Oceanos,
e o estado elevado de sua Arte própria,
para nos livrar dos desígnios dos Deuses Todos,
da tentação do Diabo,
e das moradias do Céu e do Inferno,
Mas, agindo como se fossem Deuses e Diabos, padecem nas bestialidades de seus próprios eus apequenados. O inferno de si.
No currículo dos cientistas, há coisas que nos assustam:
Concorrências desnecessárias, às vezes desleais;
melindres, desafetos;
intrigas, ressentimentos;
estresses, muita pressa;
pressão, depressão, transtornos;
infartos; AVC;
aridez afetiva e espiritual,
apologia ao saber-poder;
solidão;
loucuras.
O Cientista fálico,
de razão e objetividade só,
adorador de sua trindade e do culto em si,
é um gênio tolo falador,
um idiotizado com dureza,
que não acha graça nos adornos e coisas simples da vida;
vive sem ternura;
uma besta que se acha culta e superior aos entes demais...
No plantel dos Cientistas,
autodivinizados,
abestalhados,
tolos,
idiotizados
bestas incultas,
há especiais criaturas.


Estas últimas criaturas são humanos que se sabem e nos sentem;
e sabem que sabem, e quando não sabem;
e sentem que sentem,
e intuem,
e poetam,
e riem livres,
e choram soltos,
e se encantam com os encantados,
e nos ensinam,
com ternura e adornos...
como homens, mulheres e pessoas...
e nos tornam melhores !!!...
São as nossas luzes... e nossos espelhos !!!

sábado, 11 de janeiro de 2014

E... Morreu (2014)

Boca entreaberta e mão espalmada
O leito tem o cheiro da espera
Silêncio.

Devagar o tempo para.
Uma aura sinistra.
Uma paz imprópria.

Em um ato abrupto
O corpo se levantaaaaa ahhhhhhhhh
Cai. Morto.

É tão poderosa essa impotência
Que nada resta a fazer, além de tomar café.
Uma forma tosca de engolir o nada.