segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Morto (2016)

E o olhar se modifica em mim.
A face do que não sei confronta a impaciência
E desfaz a memória da angústia.
Revela-se a alegria.
Revela-se uma fantasia.

Póstumas andanças de alguém que não existe
Salvo quando encontra o calor de uma lembrança
Distinguir caminhar e pensamento
Contemplar paisagem e lamento
É extinguir a paz que insistiu em estar

Mandem vir os algozes da solidão
Mandem laurear a vitória de Sísifo
Mandem subir a glória de Prometeus
Porque não há nada mais a fazer
Com esse olhar que se modificou.

Morto.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O CIENTISTA NU ESPELHO (2013 - AUREO JOÃO)


Blog de: Áureo João. Teresina, 14 de outubro de 2013


O Cientista é um ente
autocriado,
autocausado,
autodeclarado,
autodivinizado,
autoproclamado...
O Cientista,
se pensa...
se fecunda,
se pare,
se valida...
faz-se um ente de único gênero e espécie...
Fálico.
Por sua própria ciência e com esta só
e sua linguagem restrita, adoece e morre,
só...
O Cientista pensa...
que o mundo todo
e todo mundo
só existe
por causa de sua ciência apenas e
de sua prescrição doutoral.
O Cientista é escultor de si mesmo;
esculpe sua formosura e formatura;
talha sua matéria-prima, como criador e criatura.
Resultam belas esculturas e finas culturas.
Às vezes, não raro,
abestalhadas criaturas.
O Cientista é um devoto fervoroso.
Na sua trindade sagrada,
dogmática dura,
sua religião-ciência tem fé absurda.
Tradição, Método e Linguagem;
e uma comunidade fanática... Referenciada...
Crentes fanáticos em suas crenças,
os cientistas, aos muitos,
à semelhança de religiosos fundamentalistas,
nos tentam fazer crer como eles mesmos, em ismos e centrismos,
e nos aprisionar em suas correntes...
discípulos dos discípulos dos discípulos
e dos mestres que dominam suas cabeças...
nos perseguem pelas desobediências atrevidas, heresias e descrenças
No panteão da ciência-religião,
autores que se pensam deuses, outros divinizados;
livros sacralizados, teorias canonizadas;
academias-senzalas, adestramentos e açoites;
hierarquias, departamentalizações, citações;
rituais e normas, reificações,
valem mais que as vidas cotidianas manifestas...
apenas para os Cientistas mesmos; só.
Os cientistas inventaram
a Ciência e a Técnica,
o cronômetro mecânico,
os seus domínios sobre a Terra e os Oceanos,
e o estado elevado de sua Arte própria,
para nos livrar dos desígnios dos Deuses Todos,
da tentação do Diabo,
e das moradias do Céu e do Inferno,
Mas, agindo como se fossem Deuses e Diabos, padecem nas bestialidades de seus próprios eus apequenados. O inferno de si.
No currículo dos cientistas, há coisas que nos assustam:
Concorrências desnecessárias, às vezes desleais;
melindres, desafetos;
intrigas, ressentimentos;
estresses, muita pressa;
pressão, depressão, transtornos;
infartos; AVC;
aridez afetiva e espiritual,
apologia ao saber-poder;
solidão;
loucuras.
O Cientista fálico,
de razão e objetividade só,
adorador de sua trindade e do culto em si,
é um gênio tolo falador,
um idiotizado com dureza,
que não acha graça nos adornos e coisas simples da vida;
vive sem ternura;
uma besta que se acha culta e superior aos entes demais...
No plantel dos Cientistas,
autodivinizados,
abestalhados,
tolos,
idiotizados
bestas incultas,
há especiais criaturas.


Estas últimas criaturas são humanos que se sabem e nos sentem;
e sabem que sabem, e quando não sabem;
e sentem que sentem,
e intuem,
e poetam,
e riem livres,
e choram soltos,
e se encantam com os encantados,
e nos ensinam,
com ternura e adornos...
como homens, mulheres e pessoas...
e nos tornam melhores !!!...
São as nossas luzes... e nossos espelhos !!!

sábado, 11 de janeiro de 2014

E... Morreu (2014)

Boca entreaberta e mão espalmada
O leito tem o cheiro da espera
Silêncio.

Devagar o tempo para.
Uma aura sinistra.
Uma paz imprópria.

Em um ato abrupto
O corpo se levantaaaaa ahhhhhhhhh
Cai. Morto.

É tão poderosa essa impotência
Que nada resta a fazer, além de tomar café.
Uma forma tosca de engolir o nada.

domingo, 26 de maio de 2013

RONDA, 1953 (Paulo Vanzolini)

Paulo Vanzolini, pesquisador, poeta... Saiba mais:
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/192/o-cientista-poeta-288077-1.asp

RONDA
De noite eu rondo a cidade 
A te procurar sem encontrar 
No meio de olhares espio em todos os bares 
Você não está 
Volto pra casa abatida 
Desencantada da vida 
O sonho alegria me dá 
Nele você está 
Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse 
Esse alguém me diria 
Desiste, esta busca é inútil 
Eu não desistia 
Porém, com perfeita paciência 
Volto a te buscar 
Hei de encontrar 
Bebendo com outras mulheres 
Rolando um dadinho 
Jogando bilhar 
E neste dia então 
Vai dar na primeira edição 
Cena de sangue num bar 
Da avenida são joão
............
Interpretação de Maria Betânia: http://www.youtube.com/watch?v=m1QOGybRmkQ

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Rima de amor (2007)

O dia brilhou
A chuva não veio...
 
Um anjo piscou
Você estava no meio
 
Deus te abençou
E teu amor me acertou de cheio...

(enviado por email  para Veronica Brasil, em 28.12.2007)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Mansidão... (2013)

Na esquina encontro obscuros encantos
Que fogem resignados a partir do nada
Enquanto cedem o lugar para o desengano
E a memória se desfaz, inquieta.

Nada fica. Tudo se foi. E o que virá?
Tormento e desejo. Paz e sossego. Desamor e apego.
Um ritmo insensato e insano. Ao mesmo tempo, uma calma
Tão pouco revista.

Quebro teu rosto.
Mordo tua língua. Tenho ira!
Odeio com todas as minhas entranhas
Pelo quanto que me fazes perder tempo.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Que mais? (2013)

Se dói o peito, prende e não se respira
Que mais precisa para saber
Que não é possível parar

Se dói, incômodo e crescente
E a mente discorda
Que mais precisa fazer
Para superar?

Por favor, sua mente vai quebrar você inteira.
E sua vontade vai morrer frustrada.
Vendo você decidir ficar parada
Quando sabe exatamente o que deve fazer.